Não é novidade que o simplismo do qual o senso comum hodierno está eivado, tem tornado cada vez mais despiciendo o conceito de que esforço, renúncias e sacrifícios, sejam pressupostos inexpugnáveis do caminho que leva à virtude, em torno da qual se manifesta o sucesso tão almejado, quanto conspurcado.

Cada vez mais presentes em nosso cotidiano, objurgatórias metuendas, que revelam a natureza pusilânime de néscios que se autointitulam autoridades nos mais variados temas, fomentam sofismas contemporâneos, engendrados de forma axiomática a partir de premissas óbvias – portanto, isoladamente verdadeiras -, mas que sugerem conclusões falsas, porém, referendadas pelo senso comum, na medida em que a aderência massificada e estólida, confere “autoridade” às inferências estapafúrdias propaladas sem nenhum pejo na vitrine dos impolutos.

Este proscênio virtual tem se tornado solo fértil para parlendas que enaltecem supostos atalhos, com o impudico desiderato de pôr apodo a sacrifícios e esforços que seriam anódinos ao fim colimado, deixando a falsa mensagem de que basta acessar um conhecimento mágico reservado a uma seleta casta de asseclas que se proponham a aderir ao sodalício de “ovelhas perdidas” que reencontraram o rebanho, para se alcançar o topo do cume.

É interessante notar o que enche os olhos da maioria das pessoas sedentas pela “fórmula mágica” do sucesso, só reforça a necessidade cada vez mais premente de se aprimorar o senso crítico que deve invariavelmente anteceder a busca por qualquer “conteúdo” digital, cujos contornos retóricos emprestados por estratégias contemporâneas do marketing digital, empobreceram, inclusive, o conceito de eloquência.

Até para falar o óbvio, era necessária uma boa oratória, com recursos linguísticos aprimorados, uso escorreito do vernáculo e outras figuras de linguagem capazes de dar contornos persuasivos ao panegírico.

Se a era digital deu novos horizontes ao alcance dos meios de comunicação, na mesma proporção criou um mistifório cultural, do qual tem emergido a desconstrução do propósito acadêmico ou de quaisquer outros critérios legitimados no âmbito científico que habilite ou que ao menos confira fundamento e veracidade às vozes que se proponham a disseminar pseudo-ensinamentos a um público apedeuta atraído por aleivosias, que prometem a tão sonhada “fórmula mágica” para o sucesso!

Fomentadas pela cultura da ostentação, as credenciais que legitimam e conferem “fundamento” para prédicas parvas acolhidas no seio da contemporânea comunidade digital, não estão ancoradas em estudos científicos ou acadêmicos, mas na jactância do proditor, que aposta na predisposição, inerente aos anseios humanos ocultados no subconsciente, que impulsiona a maioria das pessoas a buscar alcançar o sucesso almejado, despendendo o mínimo esforço, o que tem enfraquecido o consagrado escólio segundo o qual o sacrifício seja o caminho da redenção, tanto no âmbito espiritual quanto no que concerne às aspirações humanas relacionadas ao sucesso tão cobiçado e tão desconhecido quanto distante.

O que, em certa medida, não desmente a premissa deturpada ancorada no sucesso ostentado pelo intimorato predicante, legitimado não por suas supostas conquistas materiais (como quer incutir em seus panegíricos), mas sim pela incauta aderência de seus próprios sequazes, traídos por sua avidez indômita e absoluta aversão a qualquer tipo de sacrifício ou renúncia.

O mistifório de mantras perfunctórios, medrado no proscênio da parlanda virtual, antes arrefece do que legitima a retórica emanada dos proficientes em chocarrices e bazófias, cuja autoridade não lhe é conferida pela prosápia ostentada (como quer parecer em suas prédicas falaciosas), mas antes legitimada pelos próprios asseclas sedentos pela busca hedonista do sucesso!

A linguagem castiça empregada, desde o prólogo até a conclusão desta verrina, revela, em tom irônico confesso, o quanto a retórica pode revelar ou esconder em sua teia sedutora; donde emerge a inequívoca ilação de que, no final das contas, cabe ao destinatário o exercício do tirocínio crítico, responsável, em última análise, pela “legitimação” do tema em voga no seio da comunidade virtual!

(Rafael Matos)